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quarta-feira, setembro 13, 2006

As primeiras chuvas de Outono

Disseram-me para pensar numa flor, na flor que mais gostasse, para imaginar o seu perfume a sua côr, para me fundir na sua beleza... a flor que escolhi foi o malmequer, claro que não tem perfume e a côr não é nada de especial uma vez que é branco mas, é lindo simples de uma beleza pura! Porque não teria escolhido antes uma flor mais vistosa com cores vibrantes e um perfume suave, se estava a imaginar, porque não imaginava antes uma rosa, um cravo ou uma dália... mas eu sei que no fundo o que aprecio mesmo é a simplicidade, a beleza aliada à força e o malmequer tem tudo isso, é de uma beleza aparentemente fragil mas de uma tenacidade firme, quando começa a primavera é vê-los a nascer nos sítios mais improváveis. Esta analogia da flor com a minha personalidade fez-me ir mais lonje e pensar na alegria que sinto ao passear na praia no fim de uma tarde de Outono, em como os meus olhos se enchem de lágrimas quando nas primeiras chuvas de Outono o cheiro a terra molhada invade os meus sentidos ou como ao sentir a solidariedade de um familiar ou amigo o meu coração parece rebentar de felicidade... gosto de viver e de transmitir a minha alegria pela vida!
Gosto de saltar nas poças de água como as crianças, gosto de ouvir as histórias dos velhos, gosto de lêr contos de fadas e adoro contemplar o mar.
Tudo o resto se resume a coisas sem grande importancia, e o mais engraçado é que conforme vou ficando mais velha mais insignificante me parece aquele que parece ter sucesso na vida mas depois olhando melhor vêmo-lo sempre com um copo de bebida na mão procurando talvez esquecer o que gostaria de ter feito e não fez, ou ainda aquele que nos olha de cima cheio de firmeza mas que não é capaz de desviar o seu caminho para deixar passar o cãozinho já velhote que demora o seu tempo a passar. Na verdade olhando através dos olhos, lá bem atrás, estão as crianças que todos nós somos, e algumas ficaram tão para trás que foram esquecidas.
Por poucos momentos volto a ver a travessura da criança nos olhos da minha mãe, enquanto ela me conta algo que lhe aconteceu, acho graça ver nos seus olhos transparentes o brilho da sua juventude, assim como gosto sentir a esperança que vem com toda a sua força nos olhos da minha filha.
Um dia conheci uma senhora que vive lá bem perto de mim, os seus olhos estavam apagados! como posso explicar melhor? Nada naquela senhora parecia viver, vim a saber que bebia para esquecer, e o resto do tempo recordava os tempos idos! Nos olhos desta senhora já não se vê a criança nem a esperança nem tão pouco a vida, eles olham noutra direcção e só vêm solidão.
Nos olhos de uma amiga, vejo a rebeldia, a vontade de fazer mais, a sua alma a querer ser ouvida, e por outro lado a vida que ela escolheu, sem aventura uma vida de submição! Mas de maneira nenhuma ela aceita ser submissa e revolta-se até consigo propria e assim vai buscando um equilibrio que não conhece, mas que vai conquistando a pouco e pouco, e nos seus olhos vai-se vendo a esperança a renascer e a coragem a ganhar terreno!
Tenho uma outra amiga que está muito muito doente, a vida vai passando e ela sente que lhe foge, nada parece ter sentido, a criança que hà nela encolhe-se, aninha-se e chora... nos seus olhos vê-se profundamente, é quase um abismo, a esperança de melhorar está lá mas a dor não deixa sonhar muito.
Nos meus olhos espero que se veja a criança que eu sou o malmequer que quero ser, e o mar que eu amo!