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segunda-feira, fevereiro 22, 2016

Salta Poçinhas

Salta Poçinhas é um grande amigo meu, acompanhei-o em inúmeras aventuras e ele sempre me ajudou a vencer obstáculos e a valorizar o verdadeiro amor.
Quem é o Salta Pocinhas? É um menino de cabelo revolto e de grandes botas de chuva coloridas, ele adora saltar de poça em poça depois da chuva, ama o cheiro da terra molhada tanto quando o calor do sol sobre a pele, ele é livre como um pássaro, e leva-me com ele para florestas encantadas, onde os animais, as plantas e as pessoas vivem em harmonia.
Conheci o salta Pocinhas num domingo de manhã à muitos anos atrás, quando como de costume me  levantei cedo e para não acordar as minhas irmãs fui para o jardim brincar, era primavera e as flores do jardim estavam lindas, todo o jardim brilhava com pequenas pérolas de água que brilhavam aos primeiros raios do sol, era meu hábito fazer muitas perguntas às flores, perguntava-lhes como era ser uma flor, queria saber o que iria ser quando fosse grande, se gostavam das minhas
calças vermelhas e se sabiam o que deveria fazer para ser feliz, elas respondiam-me abanando as folhas com o vento.
As flores que mais gostavam de falar comigo eram os amores perfeitos, nunca recusavam responder às minhas perguntas e tentavam adivinhar o futuro para me ajudarem, eu em contrapartida fazia-lhes festas nas pétalas suaves como veludo, isto claro está quando não andava aos pulos pelo jardim ainda de pijama e feliz por sentir o cheiro da primavera que chegava. No entanto nessa manhã estava bem quieta a ouvir o vento e a olhar o jardim, não me apetecia saltar nem fazer perguntas, sentia-me um pouco triste, quando o meu olhar pousou nuns olhos pretos que me fixavam, saltei assustada ao ver um menino a olhar para mim com um grande sorriso. Escondi-me atrás da ginjeira que havia no meu quintal e perguntei a medo:
- Quem és tu? o que fazes aqui?
Foi então que ouvi pela primeira vez a voz mais linda que conheci, era uma voz suave como o cair da chuva num campo verde, tinha o canto dos pássaros misturado e parecia ter pós de perlimpimpim quando ria, será que conseguem imaginar? gostava de saber descrever com exatidão o som daquela voz e a tranquilidade que transmitia.
- Eu sou O Salta Pocinhas - Respondeu ele olhando para dentro dos meus olhos como nunca ninguém tinha olhado, e sorriu.
Devagar fui saindo de trás da árvore, já sem medo e sem deixar de fixar os olhos negros dele.
- Pareceu-me sentir que hoje estavas triste, costumo passar por este jardim e ficar a ouvir as tuas conversas com os Amores Perfeitos, mas hoje estava tudo em silêncio, o que aconteceu?
- Tenho medo, acho que não vou conseguir crescer e ser feliz... a minha mãe diz que há muita gente infeliz, porque estão doentes, estão velhos, porque não são livres para fazerem o que o coração manda, eu mesma fui a uma casa muito pequenina e escura, vivia lá uma senhora com os olhos parados, quando olhei para ela senti medo de um dia ficar assim.
- Humm, vamos até onde vive a felicidade queres?
Concordei imediatamente, sentia-me tão bem com o Salta Pocinhas que nem hesitei, demos as mãos e e começamos a andar bem devagar para sentirmos cada passo, toda a minha atenção estava nos meus pés quando dei por isso eles já não tocavam o chão, assustei-me e caí.
- Então Pema? não tenhas medo estás só a caminhar, olha agora agora para tudo o que te rodeia com muita, mesmo muita atenção, disse-me Salta Pocinhas.
Senti novamente que estava a andar sem tocar o chão, mas desta vez não me assustei e continuei cada vez mais alto, sentia-me completamente livre, era como se eu fosse a chuva, o vento, eu era aquela joaninha que se preparava para levantar voo, era o trevo que rompia a terra, era o gato que se espreguiçava, lentamente voltei a olhar à minha volta a tocar com os pés nas pedras e a minha atenção voltou aos meus passos lentos e ás nossas mãos juntas.
- Foi fantástico! Mas parece que nem saí daqui.
- Ha ha ha Será que não saíste? será que andaste mesmo pelo ar?
- Eu.. epa eu acho que sim...
- Até amanhã Pema, lembra-te que para seres feliz só precisas de ouvir o teu coração.
Fiquei a ver a sua figura a afastar-se, os seus passos eram leves e mal tocavam as pedras do chão deixei de o ver mas ainda ouvia o seu riso tão parecido com pós perlimpimpim. Foi assim a minha primeira aventura com o Salta Pocinhas.

Esta pequena história dedico à memória do meu pai que inventou o Salta Pocinhas e contava as suas aventuras ao jantar com imensa paciência para que eu comesse.




segunda-feira, fevereiro 15, 2016

A tartaruga

Todos os dias penso em algo pelo que estou grata, hoje lembrei-me  uma uma partilha de experiências na qual uma coleguinha contou que um dia encontrou uma tartaruga gravemente magoada numa sarjeta e que a levou para casa para a tratar, no entanto o veterinário disse-lhe que a tartaruga tinha partido a mandíbula e que não havia nada a fazer pois uma operação não a iria curar, a minha colega levou-a para casa e ao fazer  Prana Chiquitsa a tartaruga olhou para ela esticando o pescoço mas ao fim de cerca 3 dias ela morreu.

Esta história, enterneceu-me porque essa minha colega foi realmente querida ao tentar tratar a tartaruga (pouca gente o faria), mas também me fez pensar na sorte que tenho por ter nascido humana, por ter nascido num país em que temos hospitais públicos, por ter direito à Segurança Social como bem público solidário e de todos, e  assim ter  acesso a bons médicos e a tratamento, já passaram alguns anos mas vou sempre estar grata por ter ficado bem após uma operação por motivos semelhantes à da tartaruga.