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sexta-feira, outubro 18, 2013

parti o braço...

Em julho parti braço fui de imediato para o hospital
Fiquei à espera algumas dolorosas horas para ser vista pelo ortopedista
quando finalmente me chamaram fui ter à sala de ortopedia que tinha uma porta de correr, fiquei a olhar para a porta sem saber como fazer (com ambos os braços magoados não tinha como abrir) ainda tentei bater à porta mas era impossível alguém conseguir ouvir o meu bater tão leve, tive portanto de pedir ajuda, depois de o médico me observar fui tirar radiografias... mais portas de correr até à sala de radiografias, mas desta vez tinha um botão para abrir, toquei no botão com o nariz e lá consegui passar, tirar a radiografia foi outro tormento e não consegui fazer as radiografias como foram pedidas por ter muitas dores, por isso o médico mandou injectarem-me um analgésico, fui então para a enfermagem e enquanto recebia o analgésico fiquei a ouvir o enfermeiro a falar com a colega com quem estava trabalhar (estavam a trocar de turno) sobre uma velhota de 90anos que estava numa cadeira de rodas no corredor, ele perguntava se a velhota já tinha alta ao que a colega respondeu que sim, mas que ao tentar contactar com os familiares descobriu que a velhota não tinha ninguém...
Depois das radiografias fui fazer uma TAC mas desta vez já tinha a ajuda do meu marido e já estava com o braço engessado depois do diagnóstico de fractura no rádio, ao passar vi que a velhotinha ainda estava à espera fui falar com ela perguntei se estava bem, ela respondeu que sim e que estava à espera para ir para casa, e que a Liga dos Amigos do Hospital de Almada (grande trabalho que eles fazem aqui neste hospital) é que a ajudavam e iam levá-la, continuou a contar que vivia sózinha que tinha um restaurante no andar de baixo que lhe levavam as refeições, mas que ela comia muito pouco, os seus olhinhos reflectiam a solidão da sua vida, mas tinha um sorriso de quem mesmo assim se acha afortunada por ter alguma independencia era magrinha e simpática e com muita vontade de conversar, eu fui dizendo que também eu comia pouco e que sempre fui assim ela achou engraçada a minha história de como quando era pequena eu consegui ludibriar a minha mãe fingindo que comia tudo mas a verdade é que deitava para o lixo o que estava no prato, o seu sorriso cresceu e iluminou os seus olhos, e partilhou comigo mais algumas coisas mas eu tinha de ir e despedi-me dela desejando de todo o coração que fosse feliz, mas ela ficou no meu pensamento, pensei nos muitos velhotes que temos a viverem sózinhos, que estão a ser cada vez mais penalizados por politicas anti-sociais, numa fase da vida em que estamos frágeis e que precisamos de compreensão e paciencia, somos postos à margem e constantemente esquecidos....